sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Fluxo de capital na bolsa

Pessoal, um dado que acompanho diariamente é o fluxo de capital na Bovespa. Todo dia a Bovespa publica o saldo, positivo ou negativo, das quatro categorias de investidores. Essas categorias são investidores institucionais (fundos de pensão, entidades de previdência privada, fundos de investimento e seguradoras), instituições financeiras (bancos), investidores estrangeiros e pessoas físicas (nós, sardinhas).

A Bovespa publica essas dados com dois dias úteis de atraso por causa do tempo de liquidação. Clique aqui se quiser ver.

Porém, esses dados puros pouco nos dizem, porque o que importa é a tendência deles no tempo. Para isso teríamos que acumular diariamente esses dados para gerar uma base histórica e plotar um gráfico para melhor visualização. Mas felizmente já tem gente que faz isso para nós. O melhor lugar que vi publicado essa informação é  em http://www.bolsafinanceira.com/fluxo-de-capital.

Abaixo temos o gráfico publicado hoje retirado desse site, atualizado até 8/2/2013, portanto com dois dias úteis de atraso, e incluindo um histórico de 5 anos.

Esse gráfico mede apenas a variação de dinheiro novo que entra na bolsa ou que sai dela no mercado à vista. Se o investidor vender X milhões de alguma ação e comprar em seguida X milhões de outra, seu saldo será zero, portanto não provocará alteração no gráfico.


Então vamos analisar categoria por categoria. A primeira coisa a se notar é que as instituições financeiras, linha verde, pouco variam no tempo. Isso significa que elas pouco trazem dinheiro novo ou levam dinheiro da bolsa. A influência delas na variação do Ibovespa é mínima, pelo menos nesse período estudado.

As grandes variações estão nas outras categorias. A grande queda de 2008 foi provocada pela saída dos investidores estrangeiros (reparem que o início da saída deles bate certinho com o início da queda), que em sua grande maioria são americanos (basta reparar como o volume da bolsa aqui cai para menos da metade quando é feriado nos EUA e aqui não).

Como a crise de 2008 foi lá, natural a saída deles. Reparem que no mesmo período da queda da bolsa (linha vermelha) e da saída dos americanos (linha roxa), os investidores institucionais e pessoas físicas trouxeram dinheiro novo para comprar as ações que os estrangeiros se desfaziam.

Depois disso, o que se vê é que passado o caos de 2008, os estrangeiros voltaram, puxando o índice para cima, mas com a saída dos investidores institucionais e pessoas físicas. Na verdade essas duas categorias vem reduzindo sua exposição na bolsa há 4 anos.

Hoje, o fluxo dos estrangeiros é o mais alto no período, superando o fluxo de quando a bolsa atingiu os topo histórico de 74.000 pontos. E a quanto estamos? Nos míseros 58.000 pontos. Portanto, se a bolsa está onde está não é por culpa dos estrangeiros. Eles estão até tentando fazê-la subir (não porque querem isso, mas quando trazem dinheiro novo essa é a consequência), mas dos investidores nacionais, seja institucionais ou pessoas físicas.

Não sei o porquê desse desânimo nacional com a bolsa e posso apenas conjecturar. Suponho que parte desses recursos migrou para imóveis (físicos ou FIIs). Ou foram para renda fixa, quando ainda rendia alguma coisa. Ou simplesmente foram injetados na economia como consumo. Sei lá.

O fato é que se houver um problema internacional grande, que envolva EUA ou Europa, a saída súbita dos estrangeiros nos moldes de 2008, e considerando que estão em maior nível do que em 2008, combinado com o menor nível dos nacionais que em 2008 e o menor nível da bolsa agora do que em 2008, esse cenário pode se tornar uma combinação explosiva que jogaria o índice certamente para baixo de 30.000 pontos.

A esperança é a pequena luz que se acendeu nos dois últimos meses com uma reação tímida das pessoas físicas. Pode ser que as pessoas físicas estejam voltando e isso ajudaria a impulsionar o índice. Vamos aguardar as cenas do próximo capítulo dessa novela.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Dica valiosa

Pessoal, hoje vou falar de uma revolução que está ocorrendo na internet. A forma de se ensinar e aprender utilizando a internet impactará todas as sociedades e quem não embarcar nessa ficará para trás.

Há um ano atrás conheci o Coursera e depois dele tive que repensar o modelo atual nosso de formação profissional. Para quem não conhece, o Coursera (www.coursera.org) é uma parceria de dezenas de universidades americanas, algumas top como Princeton, Standford e Columbia, para oferecer cursos pela internet. Inclusive  o Coursera já  conta com a participação de algumas universidades de outros países.

Atualmente são oferecidos cerca de 200 cursos em diversas áreas. Sempre tem novos cursos lançados toda semana. Os cursos tem uma duração de 4 a 15 semanas em média, mas isso pode variar dependendo de cada curso.

Os cursos são ministrados por professores desses universidades por meio de vídeos, que você pode inclusive fazer o download. Cada curso também tem um fórum de discussão que é usado ao longo do curso.

O incrível disso tudo é que todos os cursos são gratuitos. Basta se cadastrar e fazer quantos cursos quiser ou der conta. Todos que concluem os créditos do curso, realizando as tarefas definidas, recebem uma certificação pelo aproveitamento do curso. A avaliação das tarefas é feita peer-to-peer, ou seja os alunos avaliam uns as tarefas dos outros. Afinal um curso desses é normal ter dezenas de milhares de alunos espalhados pelo mundo todo e seria impossível o professor avaliar individualmente cada um.

Acredito que em breve empregadores darão muito valor aos candidatos que possuírem esses certificados, pois demonstrará alto nível de qualificação e comprometimento com o aprendizado contínuo.

Existem cursos para todos os gostos e muitos professores são bastantes renomados em suas universidades. É uma oportunidade ímpar de ter acesso a aulas dos melhores professores no assuntos, das melhores universidades, no conforto da sua casa e de graça.

Eu fiz metade do curso Computational  Investing, que está inclusive começando outra turma. Não conclui no prazo e não vou receber o certificado, mas vou continuar fazendo porque o curso é muito interessante e fica disponível para você continuar quando quiser.

Por exemplo, outros cursos que estão começando ou acabaram de começar e que são relacionados ao mundo dos investimentos são:


Isso só para citar alguns, pois tem muitos outros lá.

Todos os cursos de universidades americanas são em inglês. Então  se você não domina bem o inglês aproveite essa oportunidade para expor o seu cérebro a outra língua e você se surpreenderá com  a plasticidade dele em aprender. Afinal, se você não começar um dia nunca vai aprender e vai te restar ficar fugindo o resto da vida de toda situação que envolver o inglês.

Fica dica. Se você já fez algum curso do Coursera, conte-nos a sua experiência.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Investir com base no DY é eficaz?

Olá pessoal, este é mais um post da série "O que é eficaz" no mercado acionário. Nesse post Investir com base no Preço/Lucro é eficaz? e nesse Investir com base no P/VP é eficaz?, eu apresentei os resultados de um backtest de duas carteiras montadas exclusivamente com base nos múltiplos P/L e P/VP. 

O senso comum tem que P/L e P/VP são melhores quando menores.  O backtest corroborou esse sentimento para o P/L, mas apenas parcialmente para P/VP. Agora vamos apresentar os resultados para carteiras montadas com base no Dividend Yield, ou simplesmente DY, que é o dividendo pago por ação dividido pelo preço da ação. O senso comum diz que quanto maior o DY maior o potencial de valorização.

Os resultados desse backtest eu retirei do livro What Works on Wall Street de O'Shaughnessy, 4ª edição, que não tem versão em português.

O backtest consistia em mensalmente ranquear as ações do mercado americano em ordem decrescente de DY e separar em grupos de 10%, chamados decis, e acompanhar mensalmente o rendimento desses decis com base num investimento inicial de $10.000,00 em cada decil. O backtest utilizou dados de 83 anos. Mais detalhes do método do backtest eu já descrevi nesses posts anteriores, portanto não vou repetir aqui, assim podemos ir para os resultados diretamente.

Como você pode ver na tabela abaixo retirada do livro não foi o primeiro decil, de maior DY, que gerou o maior rendimento. O maior rendimento coube ao terceiro decil com 12,08% ao ano de rendimento contra 11,77 do primeiro decil. Isso pode parecer pouco, mas depois de 83 anos representou 40% a mais, gerando $144 milhões contra $102 milhões. 


O segundo e quarto decis também foram melhores que o primeiro. Situação semelhante também ocorreu na análise do P/PV. Só que lá o melhor decil foi o segundo.

O terceiro decil além do rendimento maior que o primeiro teve também volatilidade menor, o que resultou ao terceiro decil o maior índice Sharpe, portanto o decil mais eficiente para se investir.  

O gráfico abaixo mostra um comparativo de cada decil:


A minha conclusão é que como o melhor decil fica meio que no meião do ranking, fica difícil selecionar ações somente com base no DY. Mas essa análise pelo menos mostraria no que não investir. Se o DY alto não serve para indicar o melhor rendimento, o menor DY, normalmente zero quando a empresa não paga nada, indica baixo potencial de rendimento, basta reparar no nono e décimo decis. 

Assim, tendo em conta apenas a análise do DY, eu usaria essa informação não para comprar, mas para fugir de empresas com DY abaixo da média do mercado, que numa consulta rápida ao Fundamentus, seria de 3,35%.

Mas é claro que a maioria das pessoas não vai utilizar apenas esse indicador, né Pobretão?

E agora você ainda tem fé na busca dos maiores DY? Ainda se sente tranquilo com cmig4, elet3, enbr3 e a famigerada elpl4 na carteira?