Pessoal, um dado que acompanho diariamente é o fluxo de capital na Bovespa. Todo dia a Bovespa publica o saldo, positivo ou negativo, das quatro categorias de investidores. Essas categorias são investidores institucionais (fundos de pensão, entidades de previdência privada, fundos de investimento e seguradoras), instituições financeiras (bancos), investidores estrangeiros e pessoas físicas (nós, sardinhas).
A Bovespa publica essas dados com dois dias úteis de atraso por causa do tempo de liquidação. Clique aqui se quiser ver.
Porém, esses dados puros pouco nos dizem, porque o que importa é a tendência deles no tempo. Para isso teríamos que acumular diariamente esses dados para gerar uma base histórica e plotar um gráfico para melhor visualização. Mas felizmente já tem gente que faz isso para nós. O melhor lugar que vi publicado essa informação é em http://www.bolsafinanceira.com/fluxo-de-capital.
Abaixo temos o gráfico publicado hoje retirado desse site, atualizado até 8/2/2013, portanto com dois dias úteis de atraso, e incluindo um histórico de 5 anos.
Esse gráfico mede apenas a variação de dinheiro novo que entra na bolsa ou que sai dela no mercado à vista. Se o investidor vender X milhões de alguma ação e comprar em seguida X milhões de outra, seu saldo será zero, portanto não provocará alteração no gráfico.
Então vamos analisar categoria por categoria. A primeira coisa a se notar é que as instituições financeiras, linha verde, pouco variam no tempo. Isso significa que elas pouco trazem dinheiro novo ou levam dinheiro da bolsa. A influência delas na variação do Ibovespa é mínima, pelo menos nesse período estudado.
As grandes variações estão nas outras categorias. A grande queda de 2008 foi provocada pela saída dos investidores estrangeiros (reparem que o início da saída deles bate certinho com o início da queda), que em sua grande maioria são americanos (basta reparar como o volume da bolsa aqui cai para menos da metade quando é feriado nos EUA e aqui não).
Como a crise de 2008 foi lá, natural a saída deles. Reparem que no mesmo período da queda da bolsa (linha vermelha) e da saída dos americanos (linha roxa), os investidores institucionais e pessoas físicas trouxeram dinheiro novo para comprar as ações que os estrangeiros se desfaziam.
Depois disso, o que se vê é que passado o caos de 2008, os estrangeiros voltaram, puxando o índice para cima, mas com a saída dos investidores institucionais e pessoas físicas. Na verdade essas duas categorias vem reduzindo sua exposição na bolsa há 4 anos.
Hoje, o fluxo dos estrangeiros é o mais alto no período, superando o fluxo de quando a bolsa atingiu os topo histórico de 74.000 pontos. E a quanto estamos? Nos míseros 58.000 pontos. Portanto, se a bolsa está onde está não é por culpa dos estrangeiros. Eles estão até tentando fazê-la subir (não porque querem isso, mas quando trazem dinheiro novo essa é a consequência), mas dos investidores nacionais, seja institucionais ou pessoas físicas.
Não sei o porquê desse desânimo nacional com a bolsa e posso apenas conjecturar. Suponho que parte desses recursos migrou para imóveis (físicos ou FIIs). Ou foram para renda fixa, quando ainda rendia alguma coisa. Ou simplesmente foram injetados na economia como consumo. Sei lá.
O fato é que se houver um problema internacional grande, que envolva EUA ou Europa, a saída súbita dos estrangeiros nos moldes de 2008, e considerando que estão em maior nível do que em 2008, combinado com o menor nível dos nacionais que em 2008 e o menor nível da bolsa agora do que em 2008, esse cenário pode se tornar uma combinação explosiva que jogaria o índice certamente para baixo de 30.000 pontos.
A esperança é a pequena luz que se acendeu nos dois últimos meses com uma reação tímida das pessoas físicas. Pode ser que as pessoas físicas estejam voltando e isso ajudaria a impulsionar o índice. Vamos aguardar as cenas do próximo capítulo dessa novela.