Hoje, eu vou apresentar uma tabela com um exemplo de ranking de ações que a minha rotina de seleção de ativos gerou. Quem acompanha o meu blog sabe que não faço análise ativa das empresas.
Isso significa que não leio balanços, releases, fatos relevantes, guidances, fóruns, nem notícias na mídia para decidir em quais empresas investir. Essa forma de investir traz vantagens e desvantagens que falarei mais abaixo.
Se você está chegando agora, vou resumir no que consiste o meu processo de seleção de papéis para ficar mais fácil entender a tabela abaixo. Todo o investimento que faço em ações é baseado apenas numa rotina pré-definida que utiliza dados fundamentalistas de todas as empresas disponíveis na bolsa. Esses dados eu retiro do site Fundamentus e exporto para o Excel.
Com base em cinco múltiplos fundamentalistas, que indicam se a empresa está cara ou barata, cada empresa tem seus múltiplos submetidos a uma fórmula que resulta numa nota individual. Depois basta colocar em ordem as notas que surge o resultado. O resultado é um ranking que começa com as empresas mais baratas e que segue progressivamente encarecendo. A lógica do investimento é comprar as empresas mais baratas.
É claro que o conceito de caro ou barato é partindo das premissas do método utilizado. Ele não tem a pretensão de declarar de forma absoluta isso. Muitas pessoas não irão concordar que aquela ou esta empresa esteja cara ou barata.
Esse método de investimento foi retirado do livro "What Works on Wall Street" de O' Shaugnessy. Já falei desse livro quando apresentei os resultados de investimentos baseados em P/L, P/VP, DY e ROE na série "O que é eficaz". A diferença é que o método que utilizo faz uso da combinação de 5 múltiplos e não de apenas um. Esse livro mostra que a combinação de mútiplos resulta em desempenho melhor ainda.
Acima de tudo, o importante do método é que ele é imparcial e objetivo, não tem sentimento, torcida ou preconceito por empresa alguma. Isso faz dele à prova de emoções. E emoções e bolsa não combinam.
A tabela abaixo foi gerada com dados do dia 18/11, portanto considerou o preço de fechamento desse dia e já o resultado do terceiro trimestre de todas as empresas.
Em tese a melhor carteira seria aquela formada com as empresas nas primeiras posições. Por exemplo, se o investidor quisesse ter 5 papeis, então deveria comprar as 5 primeiras, se quiser 10, compraria as 10 primeiras e assim por diante.
As empresas com asteriscos do lado de sua posição no ranking são empresas que tenho na carteira. Repare que não são exatamente as empresas mais bem colocadas, mas existem vários motivos para isso.
Primeiro, que eu utilizo um filtro de liquidez mínima para eu investir e isso acaba excluindo várias empresas no ranking, inclusive muitas bem posicionadas. Segundo, que tenho limites a exposições por setor, então quando esse limite atinge sou obrigado a pular uma empresa do mesmo setor e pegar as próximas. Exemplo disso são as elétricas, no geral elas ficam bem posicionadas, mas não vou me entupir delas. Terceiro motivo é que o ranking é dinâmico. Todo dia há pequenas alterações de posições em função da variação de preços, mas isso não me faz ficar alterando minha carteira. A carteira é ajustada apenas a cada trimestre.
Mas repare que as minhas empresas estão praticamente todas dentro do primeiro quartil. As piores colocadas são csna e fjta. As duas estão perigando sair da carteira no próximo balanço. A primeira porque seu preço subiu muito e com isso caiu no ranking, indicando que ficou cara. A segunda caiu no ranking por conta do resultado ruim. Ambas precisam vir com um balanço bom no próximo trimestre para melhorarem no ranking e continuarem na carteira.
Eu vendi kepl3 mês passado por R$ 33,00, porque, apesar do balanço bom que veio, seu preço subiu muito fazendo com que sua posição no ranking caisse. Repare na tabela sua colocação em 148º. Ela estava nessa posição quando vendi. Depois vi o preço subir até R$ 42,00 para meu desespero. Hoje vi a kepl3 desabar para R$ 31,00. Se continuar caindo, uma hora o método vai dar compra e eu volto para ela.
Se você sentir falta de alguma empresa no ranking é porque ela sequer passou por um pré-filtro para poder entrar no ranking.
Vantagens
A maior vantagem é o tempo livre que o método proporciona. Eu fico semanas sem abrir o home-broker e é comum passar o mês sem comprar ou vender nenhum ativo. É muito sossegado. A rotina é feito toda na mão, não tem nada automatizado, mas eu preciso fazer ela apenas na época de balanço.
Outra vantagem é segregação de funções. Eu aporto o dinheiro, mas o método é que diz onde investir. Toda minha experiência de vida que resulta em subjetivismos com preconceitos, torcidas e achismos, coisas difíceis de se mensurar economicamente, de nada influem na decisão.
O giro na carteira é pequeno, isso significa poucos gastos com corretagens. No longo prazo essa economia ajuda na rentabilidade.
Pouca sensibilidade às oscilações momentâneas. O método não vai te fazer vender um papel só por causa de uma pequena alta. Kepl3 só vendi depois de ganhar 150%. Csna já rendeu 50% e ainda não deu venda. E ainda que o resultado de um trimestre seja ruim, é provável que o método não exclua da carteira, o que dá chance da empresa se recuperar no próximo. Ou seja, dá tempo para a empresa mostrar o resultado.
Desvantagens
Não garante um desempenho formidável, apenas alguma coisa acima da média de mercado e no médio prazo. No curto prazo pode perder fácil para o mercado.
O método foi testado no mercado acionário americano. Posso apenas induzir que funcione aqui também.
Para capturar a sinergia do método é necessário ter uma carteira com muitos papeis. Ter 5 ou 10 papeis é pouco, não vai conseguir observar um ganho de desempenho em relação ao mercado, ou para que isso transpareça seria necessário décadas. Mais de 30 papeis também não precisa ter. Acima de 30 o acréscimo de um papel não faz tanta diferença. O ideal é de 20 a 30.
Os bancos por apresentarem resultados diferentes, não possuem todos os múltiplos, ficando impossibilitados de participarem do ranking.