sábado, 11 de maio de 2013

Bonificação de HBOR3

Em abril, recebi bonificação de hbor3. Foi a primeira vez que recebi isso. A bonificação consistia em receber 30% a mais de papeis de graça. No meu caso, que tinha 400 papeis, recebi mais 120.



A bonificação é diferente do desdobramento ou grupamento (split/inplit). Esses dois últimos são meros ajustes numéricos no preço do papel e na quantidade possuída com o objetivo de colocar o preço do lote padrão num patamar atrativo. O tanto que um deles aumenta ou diminui é compensado na mesma proporção pelo outro, de forma que produto entre ambos permaneça constante. O preço médio fica também alterado na mesma proporção.

Já a bonificação trata-se de uma operação contábil. A empresa incorpora parte da reserva de lucros para aumentar o seu capital social. Isso em si não gera valor algum ao acionista, pois se trata apenas de reduzir o valor na rubrica de reserva de lucro e aumentar a de capital integralizado, de modo que o patrimônio líquido continua o mesmo. Em suma, tinha um dinheiro na conta com um certo nome que passou a ter outro, mas a quantia não mudou.

Mas veja o que ocorreu na prática no caso da hbor3. Eu tinha 400 papeis a um preço médio de R$ 11,57. Recebi 120 papeis de graça, mas para efeitos fiscais custaram R$ 5,04 cada, conforme a Helbor declarou. Pela cotação do dia 30/04, o papel fechou em R$ 9,94, o que equivale a R$ 12,92 (9,94 x 1,3) antes do ajuste da bonificação e como o meu PM era R$ 11,57, então eu tinha 11,6% de ganho.

Ou seja, antes da bonificação eu estava no lucro. A bonificação faz os mesmos ajustes no preço e na quantidade da mesma forma que o desdobramento, então, também, não tem o poder de alterar os ganhos e as perdas. Ou seja, após a bonificação eu ainda continuo no lucro. Antes eu tinha 400 papeis a R$ 12,92 (preço de véspera de bonificação), que dava R$ 5.168,00, e passei a ter 520 papeis a R$ 9,94 que dá R$ 5.168,00. Tudo igual como se fosse um desdobramento.

Agora vem a diferença da bonificação para o desdobramento. Se a ação tivesse apenas se desdobrado, eu teria 520 papeis a um preço médio de R$ 8,90 (11,57/1,3), o que me daria o mesmo rendimento de 11,6% ao preço pós bonificação de R$ 9,94 e me colocando no lucro. No entanto, como esses 30% vieram com um preço declarado de R$ 5,04, o meu preço médio terminou em R$ 10,06. Portanto, ao preço de mercado de R$ 9,94 eu passei a ter prejuízo, pois o meu PM é maior que preço do papel. Mas esse prejuízo é apenas contábil, financeiramente o meu ganho ainda existe.


Isso ocorre, porque apesar de você receber de graça a ação da bonificação, ela chega com um preço como se você tivesse pago por ela. No caso, o preço de R$ 5,04 por papel. Esse preço é calculado pela empresa em função da reserva de lucro incorporada. No caso da hbor3, ela incorporou 300 milhões de reais e criou cerca de mais 60 milhões de ações.

O novo preço médio do acionista é calculado conforme dispõe o art. 47 da Instrução Normativa 1.022/2010 da Receita Federal:
§ 1 º   No caso de ações recebidas em bonificação, em virtude de incorporação ao capital social da pessoa jurídica de lucros ou reservas, considera-se custo de aquisição da participação o valor do lucro ou reserva capitalizado que corresponder ao acionista ou sócio, independentemente da forma de tributação adotada pela empresa. 
Fazendo esse cálculo o meu preço médio não caiu 30% para compensar o ganho de 30% de ações novas, como ocorre no desdobramento, mas caiu apenas 13%, o que fez eu sair do lucro para o prejuízo contábil.

Curiosamente, e lamentavelmente, a minha corretora ainda mostra meu preço médio como sendo R$ 11,57. Ou seja, ela entendeu que os 120 papeis novos chegaram pelo mesmo preço dos antigos. Se eu não soubesse desse erro, a corretora poderia me levar a sonegar imposto. Pois caso o preço do papel suba para R$ 11,50 e eu os vendesse, pela corretora eu não teria de pagar imposto, mas como na verdade meu preço médio é R$ 10,06 eu teria que pagar alguma coisa.

7 comentários:

  1. Ótimo post PB !! bem esclarecedor eu mesmo não sabia as implicações da diferença entre a bonificação e o desdobramento.

    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Zé, fiquei com medo de ter ficado enrolado demais.

      Excluir
  2. Muito bom o post, mas ainda tenho algumas dúvidas:

    Bonificação em época de crise é vantagem? A empresa não deveria utilizar o lucro obtido para reinvestir? O que você acha disto?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Mas anonimo, foi exatamente o que a empresa fez. Ela reinvestiu o lucro. Ela não deu dinheiro para acionista algum. Ela deu papel, que foi desvalorizado na mesma medida. Ela transformou o lucro em capital social. Se não faz isso, teria uma hora que distribuir isso a título de dividendo. O valor total que eu tinha não mudou.

      O que se pode questionar é se a empresa dará melhor destinação ao lucro incorporado do que você faria com ele caso ela te pagasse em dividendos.

      Penso que a bonificação equivale a uma subscrição compulsória e gratuita, que se dá quando a empresa tem dinheiro em caixa. Quando não tem dinheiro, a empresa lança novas ações e faz a subscrição. Neste caso, o acionista tem que pagar pela ação, mesmo que um preço um pouco abaixo do mercado. E também só faz a subscrição que quiser.

      No caso da bonificação, a empresa já tem o dinheiro. Então ela não precisa captar no mercado, por isso dá de graça para os seus acionistas. E como não dá para dizer que não quer a bonificação e que prefere a sua parte em dividendo, então digo que é compulsória, pois todos os acionistas vão receber esse bonus.

      Excluir
    2. Mas a dúvida está exatamente aí...

      A bonificação não muda em nada o patrimônio líquido, há apenas uma mudança de contas. Porém, ao incorporar ao capital social o lucro não poderá ser utilizado para investimentos ^na linha de produção^. Está correto esta afirmativa?

      Excluir
    3. É justamente o contrário. Enquanto o dinheiro estiver na conta reserva de lucros, não vai poder fazer nada com ele.

      Já o capital social não é um dinheiro que fica parado intocável. Ele é usado para qualquer coisa que se precise na empresa. Quando uma empresa é criada, o capital social, após ser integralizado pelos acionistas/quotistas, é que vai dar início a operação da empresa por meio de investimentos e despesas.

      No caso de empresas que já existem, elas aumentam seu capital social justamente para poderem crescer.

      Excluir
  3. Olá PB !

    Caberia uma reclamação a corretora ou mesmo a CVM sobre este problema com o preço médio ?

    É duro vc ter que manter um controle paralelo pq a corretora não apresenta o preço médio correto.

    Lambida do Poney !

    ResponderExcluir