quinta-feira, 21 de março de 2013

Benchmark correto para sua carteira

Depois de você estudar tanto as opções de investimento e montar sua carteira, você vai precisar saber se a sua estratégia de seleção de ativos é eficaz. Eficaz aqui no sentido de que a sua estratégia agrega valor a sua carteira além do que você conseguiria passivamente, ou seja, sem estudar e aplicar estratégia alguma. Para isso então você vai precisar de um benchmark. A origem dessa palavra, benchmark, vem dos levantamentos topográficos nos quais se talhava uma marca em construções ou rochas para indicar um altitude. Essa marca era usada como referência de nível para os demais objetos da redondeza da marca.

Exemplo de benchmark talhado no concreto

Hoje em dia o significado de benchmark se ampliou e pode ser a comparação de qualquer indicador com uma referência reconhecida no mercado. No caso de investimentos, temos como exemplos de benchmarks o índice Bovespa, taxa Selic, CDI e outros. Não é objetivo desse post dizer da importância de comparar a sua carteira com algum benchmark, pois isso a maioria dos investidores já tem noção. O objetivo é mostrar que tão ruim quanto não ter um benchmark é adotar o benchmark errado para medir a sua carteira.

Para ilustrar o que quero dizer, imagine um criador de cães com cachorros de várias raças. Ele faz vários cruzamentos entre as raças e surgem vários filhotes. Em função disso, os filhotes são de todos os tipos de misturas, mas uma coisa o criador tem certeza, todos os filhotes são cachorros. Agora imagine outro criador, mas de gatos, com várias raças também e que do cruzamentos dessas raças surgem vários filhotes de todos os tipos. Esse criador também tem certeza que toda a ninhada é de gatos, por mais diferentes que eles sejam. Vou falar o óbvio agora: de cachorro só se tira cachorro e de gato só gato!

Não, isso não é possível!

Não entendeu onde quero chegar? Se você tem uma carteira de investimento composta por cães títulos do tesouro direto, seu benchmark deve ter a mesma natureza, portanto a taxa Selic ou CDI, e não o índice Bovespa. Até aí dúvido que alguém discorde de mim. Porém, pela mesma lógica, se a sua carteira é composta somente de ações, o seu benchmark pode ser o índice bovespa, porém JAMAIS a taxa Selic ou CDI. Agora aposto que já tem vários se remexendo na cadeira e discordando de mim. Explico: a adoção de benchmark é para medir algo e medir uma carteira de ações com o CDI não se está medindo nada.

Vou dar um exemplo, que é extremo, mas ilustra bem o ponto. Imagine alguém com 100% da carteira com ações e cuja meta seja CDI + 6% ao ano.  Daí no ano de 2008 a carteira dele amargou uma queda de 10%. O CDI em 2008 foi de 12,3%, então a meta dele era 18,3%. Portanto ele passou longe da meta. Mas será que ele foi mal mesmo? 

Lembrando que ele só tem ações, a comparação pode ser com o índice Bovespa, que em 2008 caiu 43%. Vendo agora ele não parece que foi tão mal, não é? Não tenho esses dados, mas de todos os fundos de ações (FIA) existentes no Brasil, quantos conseguiram perder menos de 10% em 2008? Aposto que nosso investidor ficaria muito bem ranqueado.

Vamos continuar com a ilustração. Chega 2009 e o nosso investidor obteve no final do ano com sua carteira de ações um rendimento de 25%. O CDI em 2009 foi 9,9%, portanto a meta era 15,9%. Ele bateu bem a meta. Deve estar todo feliz. Porém em 2009, o índice Bovespa rendeu 83%!  Tivesse ele aplicado no BOVA11, ele tinha 70% sem se estressar com nada. Você ainda concorda com ele de que ele foi bem?

Veja que a adoção do benchmark errado levou a conclusões invertidas nos dois casos, só gerando ruído. Eu disse que ele poderia, e não deveria, comparar sua carteira com o índice Bovespa, porque se ele tivesse uma carteira de ações de small caps, ele poderia, caso quisesse mais precisão, comparar com índice Small Cap. Ou o índice Dividendos, se fosse o caso.

A minha carteira só tem ações e muitas são de small caps. Mas prefiro comparar com o índice Bovespa, pois esse é o mais representativo e com maior série histórica.

Da mesma forma, quem tem uma carteira de FIIs tem que comparar com o IFIX, nem CDI nem IBOV.

Mas a minha carteira tem um pouco de cada, como que eu faço? Meça o rendimento de cada classe de investimento com o benchmark apropriado, para ver como cada classe está performando, e depois para a carteira toda faça um índice combinado dos benchmarks ponderado na participação de cada classe.

Quer dizer então que se só tenho uma classe de ativos não devo olhar os outros benchmarks? Não é isso. Tem que olhar também, mas para avaliar se compensa migrar parte, ou o todo, para a outra classe. Imagine que a Bovespa está caindo muito, pode-se deduzir que, por correlação, qualquer combinação de investimento em ações terá como esperança, no sentido estatístico mesmo, um desempenho nessa mesma direção (assumindo apenas posições compradas). Se ao mesmo tempo o CDI está bombando, talvez seja interessante aplicar um pouco em renda fixa e aproveitar os ventos. Mas não tem nada a ver a carteira de ações caindo e concluir que está mal, porque está perdendo para o CDI, ou se iludir batendo o CDI, enquanto o Bovespa dispara na frente.
 

7 comentários:

  1. e que tal adotar dois benchmarks e comparar sempre com o que performar melhor no período? no seu exemplo acima (100% em ações) ele poderia se comparar ao mesmo tempo com o ibovespa e o cdi, pois de que adianta bater o ibovespa e ver a carteira rendendo menos que se deixasse a grana numa poupança qualquer?

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    1. a proposta de usar o benchmark é medir a eficiência da carteira por meio de uma comparação relativa de rendimentos e não seu retorno absoluto. Se vc estiver batendo o ibovespa com folga com uma carteira de ações, vc estará sendo eficiente, mesmo que ainda esteja negativo. O inverso também é verdadeiro, a poupança nunca dá rendimento negativo, mas como rendimento de renda fixa é ineficiente perante outras opções de renda fixa. O fato da poupança estar rendendo mais que sua carteira de ações não significa que seja mais eficiente. Acho que você não captou o que cerne da questão do meu post.

      A sua sugestão faria sentido se adotasse o ibov e o small caps como benchmarks para medir uma carteira de small caps.

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  2. Olá PB,

    Ótimo artigo, quando se mede por um benchmark errado o estressado gerado é enorme por não alcançá-lo ou então a animação de ultrapassá-lo pode enganar o investidor. Boas dicas e inclusive apesar de óbvia, não adotava a comparação ativo x benchmark apropriado, essa teoria derruba vários estudos que vemos pela web...

    Abraços!

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    1. Oi general, seu site sumiu, vc está reformulando-o?
      abraço

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    2. Não PB, foi um erro técnico mesmo, fui forçado a mudar de hospedagem e provavelmente esse problema vai demorar mais um dia para solucionar. Por enquanto estou falando só pelo twitter =/

      Abraços!

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  3. O índice combinado dos benchmarks ponderado na participação de cada classe é o ideal.

    Realmente dá um trabalhinho, mas é a melhor maneira.

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    1. Isso dá para automatizar no excel, que pegaria os indices na internet e calcularia tudo.

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