sábado, 13 de outubro de 2012

Investir com base no Preço/Lucro é eficaz?

Olá gente, esse é o primeiro post que faço para tratar de algum assunto de investimento, que não sobre a rentabilidade da minha carteira.

Um dos mais antigos métodos para seleção de ações é a análise dos dos múltiplos de um grupo de ações. Um múltiplo é simplesmente a razão entre dois parâmetros de alguma relevância para o investidor. O objetivo do múltiplo é permitir a comparação entre diversas ações e assim raqueá-las da mais barata à mais cara com base num mesmo critério.

Existem dezenas de diferentes múltiplos, mas existe um que é disparado o mais popular: Preço/Lucro, ou simplesmente P/L. Devido a sua simplicidade de cálculo, facilidade de entendimento e principalmente por compreender dois parâmetros obviamentes importantes para o investidor, o preço que ele paga e o lucro que dá pelo o que ele está pagando, esse múltiplo é o mais divulgado, observado e discutido do universo das ações. E a crença popular diz que quanto menor o P/L melhor.

Mas então fica a pergunta: o P/L é realmente eficaz na seleção de ações baratas e com potencial de valorização? se sim, quanto eficaz?

No Brasil, só é possível responder essas perguntas qualitativamente, com base na experiência e sentimento de investidores e gestores, pois não há estudos de longo prazo sobre isso. Porém, nos EUA, país das estatísticas, James O'Shaughnessy tem respondido essas perguntas desde 1996, quando lançou o seu livro What Works on Wall Street. Este livro teve a quarta edição lançada no ano passado e vou aqui apresentar os resultados que ele encontrou.

Primeiro, há que se entender como e quais os critérios utilizados por ele para se calcular os benefícios do P/L na seleção de ações por meio de uma análise quantitativa simulada em computador.

Ele com base no preço histórico de cada ação e do lucro da época calculou o P/L do total de ações (13.000 ao longo do período estudado) e ordenou do menor para o maior P/L. Daí, ele montou uma carteira virtual no qual ele investia $10.000 no conjunto de ações que integrasse os 10% com os menores P/L. O valor investido era rateado igualmente entre todas as ações que integrasse esse primeiro decil (10%).

O investimento era todo feito num determinado mês e rebalanceado a cada 12 meses, com base numa nova ordenação de P/L. Para evitar a tendência de um mês do ano ser melhor para comprar ou  vender do que outros meses, ele montou, na verdade, doze carteira, cada uma com o investimento e rebalanceamento num determinado mês, e daí calculou o resultado médio. Nenhum investimento era feito ao longo do estudo, existia apenas o investimento inicial que era rebalanceado anualmente.

Não vou entrar em detalhes, mas ele teve cuidado para evitar a influência de look-ahead bias, survivorship bias e data mining

O período estudado vai de 1964 a 2009, portanto 46 anos. Interessante registrar que ele diz que para ter 95% de confiabilidade são necessários pelo menos 25 anos de dados, pois dependendo de fatores da conjuntura econômica, as estratégias baseadas em múltiplos apresentam desempenhos diferentes, assim, afim de compreender todas essas variações, quando mais longo o período avaliado, mais relevante o resultado e vice versa.

Chega de papo e vamos ao que interessa:

A primeira coluna apresenta o resultado da carteira montada com as ações dos P/L 10% menores. A outra coluna é o resultado de uma carteira composta por todas as ações existentes, que representam o desempenho do mercado.


Primeiro decil Todas ações
Retorno médio ao ano 16,25% 11,22%
Desvio padrão 18,45% 18,99%
Meses positivos 351 329
Meses negativos 201 223
Índice Sharpe 0,61 0,33
$ 10.000 virou $ 10.202.345 $ 1.329.513

Verificamos que a carteira baixo P/L bateu o mercado por uma diferença de 5% ao ano. Pode parecer pouco, mas aguarde para ver o que juros compostos fazem.

O desvio padrão indica a volatilidade da carteira, o que pode ser entendido também como risco. Maior desvio padrão, maior volatilidade e maior risco. O desvio padrão das carteiras foram similares, mas a carteira baixo P/L foi um pouco melhor.

Isso é ótimo, pois significa que além de retorno maior, esse retorno não veio acompanhado de risco maior, algo normal no mundo dos investimentos, até pelo contrário, o risco foi até menor.

Ao longo dos 46 anos, a carteira baixo P/L ficou mais meses com ganhos que o mercado.

O índice Sharpe serve para comparar a eficiência da rentabilidade de uma carteira. Como de investimentos com maior risco se espera maior rentabilidade do que de um de menor risco, é injusto comparar a rentabilidade obtida por investimentos com riscos diferentes. Então, para isso, existe esse índice que permite comparar qualquer tipo de investimento, mesmo com rentabilidades e riscos diferentes um dos outros. Esse índice quanto maior melhor.

Então vemos que como os riscos são similares, mas a rentabilidade da carteira baixo P/L é maior, o seu Sharpe também é maior.

Agora veja o resultado financeiro do juros compostos. Ao final de 46 anos, os $10.000 viraram mais de dez milhões, enquanto o mercado fez pouco mais de um milhão. Uma diferença de 650%.

O gráfico abaixo tirado do livro mostra o excesso de rentabilidade da carteira baixo P/L sobre o mercado, considerando uma média móvel de 5 anos. O desempenho do baixo P/L foi superior 90% do tempo.


A tabela abaixo mostra o desempenho de cada decil. Interessante notar que menor P/L sempre é uma situação vencedora. Não há decil que desrespeite a regra de que quanto menor melhor. Se alguém tivesse investido no décimo decil teria com seus 5,5% de rentabilidade anual produzido $118.000 a partir do $10.000 contra os mais de dez milhões do primeiro decil.


 A conclusão de O'Shaughnessy é que baixo P/L rende substancialmente melhor que o mercado pelo mesmo risco oferecido. Cita que isso é algo que Graham e Dodd já sabiam na década de 40, tanto que no livro Security Analysis, eles dizem "Pessoas que habitualmente compram ações com P/L maior que 20 são prováveis perdedoras de dinheiro no longo prazo"

A minha conclusão é que de fato o P/L é um drive poderoso para indicar potencial de rentabilidade. Se a única informação que eu tivesse entre duas ações fosse o P/L não teria dúvida de pegar o menor. Mas nunca temos somente esse informação, não é? Temos também vários outros múltiplos. Mas isso é assunto para outros posts.

Mas e você? ainda se sente tranquilo comprando ambv4, natu3 e cruz3 com P/L de 27, quando a média do mercado é de 12?

5 comentários:

  1. muito legal o estudo! mas respondendo a sua pergunta no final do texto: Sim, me sinto super tranquilo comprando CRUZ3 e AMBV3(tag along)com P/L de 27. Como vc mesmo disse temos que analisar vários outros múltiplos e o tipo de empresa.

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    1. Oi Sovina, isso foi mesmo uma provocação que fiz. Existem outros critérios de avaliação que fazem algumas empresas com alto P/L ainda boas. Mas fique sempre atento e não se deixe apaixonar por estórinhas que existem por trás de cada empresa.

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  2. Comprar com PL > 8 é burrice. PL > 20 eu já nem sei o que é.

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    1. cara, tu na no ABC da bolsa, tem muito para aprender ainda

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